Artigo GAMPI Plural 22

A Atuação Científica e Extensionista do PPGDesign/Univille com Ênfase Socioambiental:  Projeto ‘Espaço Maker

The Scientific and Extensionist Performance of PPGDesign/Univille with Social and Environmental Emphasis: ‘Maker Space’ Project

SOBRAL, João Eduardo Chagas
SELLIN, Noeli1
SILVA, Danilo Corrêa1
EVERLING, Marli Teresinha1
CAVALCANTI, Anna Luiza M. de Sá1

Resumo

Este artigo apresenta um relato sobre a articulação entre pesquisa e extensão no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade da Região de Joinville (PPGDesign/Univille). O principal objetivo é apresentar a interdisciplinaridade que permeia vários projetos de pesquisa para dar suporte ao projeto “Espaço Maker de Educação para o Desenvolvimento Sustentável com Base no Design for Change“, que foi a abordagem metodológica utilizada. Para o presente estudo, foram utilizadas informações obtidas de relatórios de reuniões, visitas de campo, oficinas e práticas, a partir das quais foram propostas ações a serem implementadas em escolas. Os resultados evidenciam as diversas ações conduzidas em uma escola municipal de Joinville/SC, envolvendo professores e estudantes, com ênfase na educação para a sustentabilidade, voltada à problemática dos resíduos poliméricos. As diferentes competências dos professores do PPGDesign e de alunos bolsistas de diferentes cursos envolvidos no projeto foram relevantes na elaboração e execução das ações propostas.

Palavras-chave: design para sustentabilidade ambiental; educação maker e sustentabilidade; pesquisa de pós-graduação e extensão universitária

Introdução

 

O projeto “Espaço Maker de Educação para o Desenvolvimento Sustentável com Base no Design for Change” tem como finalidade fomentar a consciência ecológica sobre a origem, processamento, consumo e descarte de materiais poliméricos em estudantes de escolas municipais de ensino fundamental e médio de Joinville/SC. Isso será viabilizado pelo desenvolvimento de uma oficina móvel, caracterizada como um espaço “maker”, no qual os estudantes poderão criar e fabricar artefatos a partir de resíduos plásticos previamente coletados e processados por eles.

As atividades com as escolas incluem oficinas com ênfase nas etapas ‘sentir’, ‘imaginar’, ‘fazer’ e ‘compartilhar’ do processo educacional ‘Design for Change‘ (DFC, 2022). Considera-se que a ênfase no design possibilita trazer para o processo educacional a articulação entre a sustentabilidade e o projeto. Por considerar todo o ciclo de vida dos polímeros, passando pela obtenção, processamento na indústria, uso, descarte e reutilização a partir da perspectiva projetual, a proposta possibilita aos estudantes ter um entendimento das diversas etapas do processo de uma economia circular e das atividades profissionais envolvidas, como o design, a engenharia química, mecânica, ambiental e sanitária etc, e assim prospectar uma profissão no futuro.

O projeto iniciou em 2021 com atividades de planejamento e devido à pandemia decorrente da COVID-19, as atividades começaram junto a uma escola do ensino fundamental vinculada à Secretaria Municipal de Educação de Joinville no primeiro semestre de 2022. Optou-se por situar a experiência no ensino fundamental porque a consciência ecológica e educação para a sustentabilidade requerem processos de capacitação e sensibilização, o que torna a perspectiva ‘maker’ adequada para o público-jovem por estar fundamentado na experiência. Essa questão é ainda mais relevante diante dos desafios planetários hoje (im)postos e relacionados à sustentabilidade, especialmente em termos de espoliamento da natureza para obtenção de recursos, assim como produção, consumo e descarte de produtos. Comportamentos, valores, crenças e artefatos estão entrelaçados e enraizados, assim como refletem, questões culturais. Posturas e atitudes construídas e herdadas culturalmente precisam ser consideradas foco de processos educacionais e de orientação para que jovens, cuja construção mental de mundo ainda é flexível, para que elaborem comportamentos e valores culturais adequados para os desafios do século XXI, especialmente no que se refere à sustentabilidade e à preservação de condições de vida na Terra.

Em termos de extensão, o Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade da Região de Joinville (PPGDesign/Univille) possui forte inserção com a comunidade. Entre as orientações do Programa está o vínculo de projetos com a Agenda 2030 (proposta em 2015 na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas/ONU), que tem o compromisso, dentre outros, com a preservação e manutenção do patrimônio cultural e a proteção ambiental de forma colaborativa e em pares (UN, 2022). Outra ênfase é o vínculo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e as três dimensões do desenvolvimento sustentável (a econômica, a social e a ambiental), para contribuir com a melhoria da qualidade de vida da população e na proteção do meio ambiente. Uma forma de efetivar estas intenções é por meio de projetos articuladores da atuação técnico-científica coordenados por professores permanentes do Programa.

A equipe do PPGDesign/Univille que participa do projeto ‘Espaço Maker’ coordena os projetos de pesquisa Iris – A Imagem Fotográfica e as Ferramentas de Concepção e Desenvolvimento de Projetos de Artefatos Tridimensionais, coordenado pelo Prof. Dr. João Eduardo Chagas Sobral; Prisma – Design e Materiais: Novas Perspectivas para a Produção Tecnológica e Sustentabilidade, coordenado pelo Prof. Dr. Danilo Corrêa Silva; Valoriza – Valorização e minimização de resíduos visando à sustentabilidade ambiental, econômica e social, coordenado pela Profa. Dra. Noeli Sellin;  “Ethos – Design e Relações de Uso em Contexto de Crise Ecológica, coordenado pela Profa. Dra. Marli Teresinha Everling e RE-Criar – As Dimensões Criativas do Design para a Sustentabilidade, coordenado pela Profa. Ma. Anna Cavalcanti. Vinculados à área de concentração ‘Design e Sustentabilidade, bem como às linhas de atuação técnico-científica ‘Processo de Produção e Design’ e ‘Produção Tecnológica e Sustentabilidade’, os professores envolvidos, dentro das suas especialidades, têm conhecimentos de materiais e processos, fabricação de produtos, bem como a concepção de artefatos e formas de uso, observando o descarte e principalmente a possibilidade de recriar por meio da reciclagem e reuso. 

O objetivo desse artigo é apresentar as conexões entre os projetos de pesquisa do PPGDesign e a cultura maker para difundir conceitos e a prática da sustentabilidade entre os estudantes de escolas de ensino fundamental e médio. A metodologia consiste em fundamentar historicamente a atuação da extensão no Programa e apresentar antecedentes que contribuíram para a ação colaborativa da equipe e sobretudo associado ao projeto ‘Espaço Maker’, bem como no relato e análise das atividades conduzidas no sentido de identificar possibilidades de avanço. Antes da aplicação das ações nas escolas, o projeto foi submetido ao Comitê de Ética (CAAE 57165822.3.0000.5366).

Contextualização do Projeto de extensão ‘Espaço Maker

 

O histórico de extensão da equipe que integra o Projeto ‘Espaço Maker’ inicia em 2004 com o projeto “Univille para a Melhor Idade”, progride em 2005 com o projeto “Desenho Animado Ambiental” e se consolida em 2006 com o projeto “A Matur(a)idade na Univille” e “A Gravura como Meio para Desenvolvimento de Saberes Técnicos e Estéticos: uma Experiência junto aos Alunos da Escola Estadual Professora Nair da Silva Pinheiro”; a partir de 2008 e 2009 foram implementados os projetos “Design e Orientação Profissional: Mulher SempreViva” e “Amadurecer e Viver: Associando Saberes na Univille”. Além disso, em 2009, o projeto “A Matur(a)idade na Univille” foi convertido em programa permanente. Observa-se que questões importantes para a nossa discussão já estavam presentes naquelas propostas, entre elas: o design como tecnologia educacional, o direcionamento para a comunidade e escolas, e discussões ambientais.

Todas estas iniciativas enfatizam a transdisciplinaridade e a interdisciplinaridade para produção do conhecimento atual. Revisitando as publicações decorrentes destas atividades, também está evidente o registro do conhecimento científico em paralelo ao conhecimento técnico. A atuação técnico-científica, a transdisciplinaridade, a interdisciplinaridade e reflexão acerca do conhecimento dirigido para a comunidade também é um dos fundamentos do PPGDesign/Univille, criado em 2012 e implementado em 2013. Constituído como um mestrado profissional, dentre os fundamentos do PPGDesign estão os projetos de pesquisa coordenados pela equipe docente que orientam a atuação técnico-científica e produção de conhecimento que dá suporte às disciplinas e as orientações dos mestrandos e bolsistas. 

Em virtude da área de concentração e da natureza profissional, o programa possui forte inserção com a comunidade, uma das interfaces de viabilização são os projetos de pesquisa e de extensão, vinculando suas atividades com os ODS e atuando em atividades que englobam as dimensões do desenvolvimento sustentável (econômica, social e ambiental). O projeto ‘Espaço Maker’, por exemplo, está articulado com os fundamentos alinhados aos ODS 4 – Educação de qualidade (em virtude da conexão com o compromisso de educar jovens e adultos, com qualidade, competência técnica e profissional, para emprego, trabalho e empreendedorismo, bem como habilidades necessárias para o desenvolvimento sustentável) e ODS 12 – Consumo e produção responsáveis  (pelo uso eficiente dos recursos naturais, intenção de assegurar o manejo ambientalmente saudável de resíduos ao longo de todo ciclo de vida e a redução da geração de resíduos por meio da prevenção, redução, reciclagem e reuso). 

Esta atuação está alinhada com autores do design que discutem a profissão a partir de uma perspectiva social e ambiental como Papanek (1971, 1995), Braungart e McDonough (2002), Manzini (2014) e Fry (2012, 2020); também reverbera princípios de ativismo presentes no Desis Network e em movimentos como Design for ChangeFridays for future e a greve pelo clima, reveladores quanto ao que o público jovem tem a dizer e a contribuir com os desafios relacionados à crise ecológica e humanitária que estamos vivendo. Destaca-se que não seria necessário atravessar fronteiras cronológicas nem geográficas para compreender que o tema é relevante para um país em que questões socioambientais estão entre os grandes desafios, como é possível observar acompanhando argumentações que se estendem de Chico Mendes à Ailton Krenak (2020).

Como referido anteriormente, os projetos de pesquisa no âmbito do Programa que dão suporte ao ‘Espaço Maker de Educação para o Desenvolvimento Sustentável com Base no Design for Change’ são: Íris, Prisma, Valoriza, Ethos e Re-Criar. O que é comum a todos é sua vinculação com grupos de pesquisa com registro no CNPq; todos trabalham numa perspectiva do Design e Sustentabilidade; todos contam com a participação de docentes, discentes e egressos; todos encontram-se alinhados a uma das duas linhas de pesquisa e atuação do Programa; todos os projetos trabalham numa perspectiva transdisciplinar que produzem resultados desta interação. O projeto ‘Espaço Maker’ é justamente um exemplo desta característica aberta, horizontal e colaborativa. Na sequência são desdobrados os projetos de pesquisa que dão sustentação ao projeto ‘Espaço Maker’.

O projeto Íris visa estudar as relações entre a imagem fotográfica e os processos de concepção e desenvolvimento de objetos tridimensionais. Procura compreender o equilíbrio entre ferramentas apoiadas na visualidade e ferramentas apoiadas na manualidade. Objetiva, por meio de mapeamento e análise, verificar a eficácia das técnicas, dos processos e das ferramentas, tanto aqueles ligados à imagem e à linguagem fotográfica como os dedicados aos exercícios e às verificações manuais. Por fim, pretende mapear e analisar as necessidades exigidas na concepção e na produção de artefatos tridimensionais na indústria. Responde pelo grupo de estudos Homero 3D, que estuda a utilização da prototipagem rápida no desenvolvimento de soluções para pessoas com baixa visão. A coordenação do ‘Espaço Maker‘ é realizada pelo projeto Iris.

O projeto Prisma foca no estudo e desenvolvimento de materiais que estão ligados a diversas especialidades do design, em particular as do design de produtos. Além disso, a crescente preocupação com o volume e a destinação dos resíduos sólidos das atividades humanas reforça o design como fundamental no processo de conscientização e reparação ambiental. Assim, o objetivo geral desse projeto é promover investigações e desenvolvimentos, de caráter tecnológico e acadêmico, relativos a novos materiais e suas aplicações no design de produtos. As principais repercussões desse projeto são a articulação de conhecimentos e atividades entre o meio acadêmico, produtivo e a comunidade em geral; e a apropriação social de produtos com características inovadoras e sustentáveis. As atividades relacionadas ao projeto ‘Espaço Maker’ envolvem as oficinas de criatividade, adequação e testes dos equipamentos do laboratório maker, desenvolvimento do modelo e confecção dos moldes e das peças/artefato a serem produzidas a partir dos resíduos, orientação nas oficinas de reciclagem no laboratório maker e a elaboração de materiais didáticos.

O projeto Valoriza tem como foco a valorização e minimização de resíduos visando à sustentabilidade ambiental, econômica e social. O projeto tem como objetivos agregar valor a resíduos oriundos de diferentes processos e sistemas a partir de estratégias e tecnologias que promovam a reutilização, reparo, remanufatura e reciclagem; desenvolver ou aprimorar sistemas, produtos, processos e serviços com base na economia circular, visando à sustentabilidade ambiental, econômica e social; desenvolver soluções estratégicas e inovadoras para redução dos impactos ambientais gerados por bens de consumo, serviços, sistemas e processos, nas etapas de pré-produção, produção, distribuição, consumo e descarte/reciclagem, aplicando a Análise de Ciclo de Vida (ACV) como ferramenta para o design para a sustentabilidade e o design estratégico;  buscar e promover parcerias com indústrias de Joinville e região, visando atuar na melhoria de processos e desenvolvimento de soluções mais sustentáveis para processos e produtos. Os objetivos do projeto estão alinhados, principalmente, com o ODS 12 (Consumo e produção sustentáveis) e as atividades são articuladas com as desenvolvidas também no Programa de Pós-graduação em Engenharia de Processos (PPGEP-Univille) e no projeto Prisma. No projeto ‘Espaço Maker’ sua participação envolve a elaboração de material didático para as oficinas de identificação e reciclagem de resíduos poliméricos, capacitação dos bolsistas e professores da escola para as oficinas de identificação e reciclagem, preparação dos materiais poliméricos para as oficinas, desenvolvimento e confecção dos moldes e adequação e testes dos equipamentos do Laboratório maker, orientação nas oficinas na escola. 

O projeto Ethos visa o desenvolvimento de atividades orientadas para o Design (cultura da participação, inovação social e sustentabilidade) e relações de uso (usabilidade, alteridade, contexto, experiência de uso e comportamento do usuário ou das pessoas). Articula ações e pesquisas tecno científicas com ênfase no tema respondendo a desafios sociais, educacionais, públicos, industriais e do setor de serviços; foi ampliado para abranger discussões relacionadas à preservação de condições de vida na Terra e à ética para a responsabilidade proposta por Hans Jonas (2006). Atua em colaboração com o Projetos Iris (por meio do Homero 3D) e do Re-Criar, um dos parceiros no Laboratório de Estudos em Design-Cidade (LECid). Sua participação no projeto ‘Espaço Maker’ está centrada na capacitação da abordagem Design for Change, no uso de processos participativos, na perspectiva centrada nas pessoas, na orientação educacional e no desenvolvimento de material didático de suporte à replicação da experiência em outras escolas. 

O projeto Re-Criar trata das dimensões criativas do Design, quando relacionada à Sustentabilidade, que envolve repensar a própria cultura material, os valores atribuídos aos artefatos, seus significados, experiências de consumo e relacionamento dos usuários com os produtos e serviços. No campo do Design, essa atuação pode acontecer em diversas dimensões: do ser humano, da arte, da tecnologia, da ciência, principalmente por meio do viés criativo, que envolve a capacidade e habilidade de desenvolver produtos e serviços que possam ser convertidos para a sociedade e/ou mercado. As reflexões geradas pelas pesquisas teórico-práticas visam aplicações diretas em projetos de produtos e serviços conectados com os ODS por meio de parcerias com o setor produtivo, a academia e a comunidade. O projeto está articulado com o grupo de pesquisa LECid – Laboratório de Estudos da Cidade e o Projeto Iris 2 (Homero 3D). No projeto ‘Espaço Maker’ as atividades estão relacionadas às oficinas de Design for Change, oficinas de criatividade, elaboração de material didático e suporte ao projeto.

Articulações dos projetos de pesquisa do PPGDesign Univille e o projeto ‘Espaço Maker

 

Os projetos de pesquisa no âmbito do PPGDesign Univille serão responsáveis pelas atividades desenvolvidas nas escolas, as quais serão conduzidas pelos professores e bolsistas. A abordagem metodológica utilizada tem ênfase no processo educacional Design for Change (DFC) proposta pela designer e educadora indiana Kiran Sethi, que visa simplificar abordagens com o Design Thinking e o Design Centrado no Humano no processo educacional, facilitando a compreensão por leigos. O DFC consiste em 4 etapas: ‘sentir’, ‘imaginar’, ‘fazer’ e ‘compartilhar’. Em termos educacionais é caracterizado como uma metodologia ativa, que situa o estudante no centro do processo, em uma atitude de autonomia e protagonismo que visa preparar cidadãos atuantes, tão necessários para os desafios do século XXI. Também é uma abordagem próxima dos quatro pilares educacionais propostos pela Unesco: ‘aprender a conhecer’, ‘aprender a fazer’, ‘aprender a viver juntos’ e ‘aprender a ser’ (DESIGN FOR CHANGE, WEB; WERTHEIN e CUNHA, 2005). A partir da avaliação e aperfeiçoamento da experiência, será configurada uma plataforma virtual para a replicação do projeto ’Espaço Maker’, desde o desenvolvimento dos equipamentos para o laboratório, até a condução das oficinas por meio de um toolkit que inclui material didático, vídeos, conteúdos instrucionais e roteirização. Com esta plataforma, a experiência poderá ser replicada sem restrições geográficas.

A etapa ‘sentir’ iniciou com o levantamento e as reuniões preliminares realizadas junto à escola, que fundamentaram a capacitação dos professores para a abordagem do Design for Change e as atividades de capacitação para reciclagem. Esta etapa envolveu pontualmente os professores e bolsistas dos projetos de pesquisa do PPGDesign. 

A partir disso, foi realizada uma oficina participativa para articulação de todas as atividades, incluindo professores da escola municipal e a equipe do projeto ‘Espaço Maker’. O planejamento incluiu: (i) apresentação da jornada da oficina; (ii) prospecção das conexões de ensino aprendizagem da disciplina de Ciências no 9º ano e alinhamento didático-pedagógico, bem como cronológico; (iii) atividades teórico-práticas relacionadas aos materiais poliméricos, (iv) capacitação dos professores para o uso da metodologia Design for Change, e, (v) capacitação para o uso do laboratório móvel. 

A oficina DFC foi realizada em junho de 2022 (Figura 01). Inicialmente foram apresentados os conceitos da abordagem metodológica e um vídeo que mostra como essa abordagem foi aplicada em diversas iniciativas envolvendo as crianças na escola. 

Figura 01: Oficina DFC realizada com professores da escola municipal

Fonte: Os autores, 2022

Também foi apresentada a estrutura com base no DFC criada para conduzir o projeto ‘Espaço Maker’ (Quadro 01). A partir dessa explanação, deu-se início a uma escuta para perceber as necessidades dos professores, o grau de conhecimento sobre os assuntos trazidos pelo projeto ‘Espaço Maker’, oportunidades para integrar as atividades nas suas disciplinas etc.

Quadro 01: Estrutura do DfC – ‘Espaço Maker’

Sentir

  • Conduzir a etapa Sentir
  • Estruturar as atividades conduzidas com estudantes para a coleta de resíduos e atividades para a oficina maker (jornada).
  • Levantar contribuições para a jornada DFC delineada.
  •  Sentir como integrar os estudantes ao processo.

 

Resultados esperados:


Aplicar a etapa Sentir

Prospectar com os professores como estas atividades serão integradas às atividades pedagógicas.

Imaginar

  • Conduzir a etapa Imaginar 
  • Discutir com os professores como tratar a educação ambiental na escola.
  • Planejar a coleta dos resíduos.
  •  Planejar oficinas de identificação e separação dos resíduos.* Imaginar ações e campanhas de reciclagem com a participação de professores e estudantes. 
  •  Imaginar como integrar os estudantes ao processo. 

Resultados esperados:


Aplicar a etapa Imaginar

Planejamento da campanha de coleta e ações de educação ambiental na escola.

Fazer

  • Conduzir a etapa Fazer.
  •  Realizar a coleta dos resíduos.
  • Iniciar as oficinas de identificação e separação dos resíduos.
  • Iniciar as oficinas de reciclagem no ‘Espaço Maker’. 
  • Documentar as ações.
  • Planejar o compartilhamento das ações. 

 

Resultados esperados:


Aplicar a etapa Fazer
 

Coleta, identificação e separação dos resíduos poliméricos.

Experiências no ‘Espaço Maker’.

Registro das ações de divulgação.

Compartilhar

  • Conduzir a etapa Compartilhar.
  •  Divulgação das ações na escola, comunidade acadêmica e em eventos da área. 

 

Resultados esperados:

 

Aplicar a etapa Compartilhar 

Colocar as ações na rua

A equipe de pesquisadores também realizou uma visita a uma cooperativa de recicladores. Tal atividade oportunizou perceber o potencial para a percepção, no plano do consciente, dos impactos sociais, ambientais e, especialmente, a necessidade que os associados da cooperativa sentem em relação a mudanças de comportamento de consumo e, sobretudo, ao modo como produtos, embalagens e resíduos são descartados; muitas vezes esta ação, além de ser excessiva, desconsidera que os resíduos para serem reciclados e reutilizados passam por processos executados por pessoas. Reduzir a abstração e considerar a dignidade e o respeito a essas pessoas no processo é uma das questões que merecem ser trabalhadas, assim como a educação para lidar com a separação de resíduos. 

Na etapa ‘imaginar’ foi conduzida uma atividade de criatividade com os estudantes da escola. O objetivo foi desenvolver a capacidade de criar pequenos artefatos a partir do resíduo coletado e passíveis de serem produzidos com processos de moldagem de polímeros no laboratório maker. Houve uma explanação sobre o projeto ‘Espaço Maker’ e foram apresentados os conceitos de fabricação de produtos que envolvem etapas como a ‘ideia’, passando pelo projeto, fabricação, venda, uso e descarte. Destacou-se que há vários profissionais envolvidos: designers, engenheiros, publicitários, operadores etc, a fim de despertar possibilidades profissionais para os estudantes no futuro. Também foram explicados os principais processos de fabricação que envolvem conformação, subtração ou adição de materiais. Como o material utilizado nesses processos será o polímero, foi então apresentado o seu processo de reciclagem. Inicialmente foi exibido o material triturado para que os estudantes visualizem como as tampinhas que eles coletaram serão processadas. Em seguida, foram exibidas as peças moldadas a partir desse material para que eles visualizassem como esse material pode ser trabalhado. Posteriormente, os estudantes foram conduzidos para uma atividade criativa a fim de desenhar algo pequeno, com conexão com o projeto e que possa ser viabilizado a partir dos equipamentos do laboratório make’. Entre as possibilidades foram sugeridas palavras, símbolos diversos, mascotes etc, conectados ao tema da reciclagem e sustentabilidade. 

A etapa ‘Fazer’ começou na semana do Dia Mundial do Meio Ambiente no início de junho/2022, quando a escola produziu uma peça de teatro para divulgar o projeto ‘Espaço Maker’ para os alunos e dar início à campanha de coleta dos resíduos poliméricos. A peça de teatro se constitui em tema de disciplina de artes e sob a direção da professora. Envolveu alunos das turmas do 9º ano e teve como tema “A missão de Alice: meio ambiente, amor, respeito e tolerância”; além do roteiro e encenação também foi produzida a cenografia temática para ambientar a peça. A apresentação aconteceu na quadra da escola para os estudantes dos turnos da manhã e da tarde. Posteriormente, a coleta dos resíduos poliméricos foi realizada pelos estudantes em suas residências, comércio local, na escola e na rua, os quais foram levados para a escola e armazenados. 

Foram também realizadas pesquisas para a elaboração de material didático sobre metodologias de identificação de polímeros, a fim de criar um roteiro experimental e uma apresentação para capacitação de professores e alunos bolsistas para oficina de identificação de polímeros com os estudantes do 9º ano. O professor de Ciências da escola apresentou o conteúdo didático sobre os diferentes tipos de materiais poliméricos, estrutura química, suas aplicações, problemática sobre destinação inadequada e impactos ambientais. Na universidade foram efetuados experimentos em laboratório químico empregando as técnicas de identificação escolhidas para serem aplicadas na oficina com os estudantes. A primeira oficina foi voltada à identificação dos materiais poliméricos coletados a partir do código da reciclagem presente em cada material (Figura 2), sendo então separados por tipo de resina polimérica. 

Figura 2: Oficina de identificação dos resíduos poliméricos 

Fonte: Os autores, 2022

Para a oficina de identificação a partir dos testes de densidade e combustão dos materiais, foram escolhidos alguns resíduos e efetuados os experimentos demonstrativos executados pelos bolsistas da universidade com apoio do professor da escola (Figura 4). 

Figura 4: Oficinas de identificação dos resíduos poliméricos por meio dos testes de densidade e de combustão.

Paralelamente, no laboratório da Univille, o material coletado pelos estudantes foi separado e triturado para realização dos testes de reciclagem nos equipamentos (injetora, extrusora e forno compressor) do laboratório maker. Os testes visam definir as condições operacionais, como tempo, temperatura e quantidade de resíduos, conforme o tipo de resina polimérica, a serem processados em cada equipamento. Foi realizada a capacitação dos bolsistas e professor da escola para operação dos equipamentos, os quais já foram adquiridos, adaptados e testados e serão levados para a escola municipal para a realização das oficinas ‘maker’ de produção dos artefatos, planejadas para o segundo semestre de 2022.

Considerações finais

 

O projeto “Espaço Maker de Educação para o Desenvolvimento Sustentável com Base no Design for Change” e suas conexões entre os projetos de pesquisa do PPGDesign/Univille, demonstram a atuação técnico-científica, a transdisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a reflexão acerca do conhecimento dirigido para a comunidade, alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e as três dimensões do desenvolvimento sustentável e sua contribuição para a melhoria da qualidade de vida e proteção do meio ambiente.

As atividades conduzidas na escola municipal com base no processo educacional Design for Change envolveram os professores e bolsistas responsáveis pelos projetos de pesquisa do PPGDesign e foram de grande relevância para a aproximação com a escola, sua equipe e seu ambiente. Ao longo da realização das atividades de exploração e diagnóstico que correspondem à etapa ‘sentir’, todos os participantes perceberam que a experiência contribui para a capacitação de cidadãos e futuros profissionais para práticas relacionadas às áreas ambiental, do design e da engenharia por meio da educação para o desenvolvimento sustentável. 

 Acredita-se que, por sua abordagem de reflexão-na-ação, conceito proposto por Donald Schönn (2000), a educação maker tem potencial para a sensibilização ambiental, bem como a identificação profissional em uma perspectiva pessoal e profissional alinhada com a sustentabilidade. A escola, que desde o primeiro momento recebeu a proposta com entusiasmo e parceria, foi beneficiada pelo uso prático, e mais importante, socioambiental, dos conhecimentos relacionados às oficinas de coleta e separação e desenvolvimento projetual. 

Para os projetos de pesquisa do PPGDesign envolvidos, o benefício está no desenvolvimento de uma tecnologia educacional para a sustentabilidade que pode ser multiplicada em outras escolas. Avalia-se que a variedade de competências dos professores envolvidos, bem como, a diversidade de ênfases dos projetos de sustentação, contribui para que se possa abordar desde o uso de polímeros no cotidiano, passando pelo ciclo de vida, descarte, classificação de polímeros para o reaproveitamento, abrangendo o processo criativo de desenvolvimento de produtos, assim como, a estruturação do laboratório ‘maker’ que será utilizado na continuidade da proposta.

Em médio e longo prazo, com a experiência, espera-se fomentar mudanças individuais e profissionais relacionadas a internalização de atitudes de ativismo e cidadania em prol do desenvolvimento sustentável, bem como a economia circular; espera-se ainda contribuir para o alcance de metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, especialmente o ODS 4 e 12.

Referências

 

Braungart, M.; McDonough, W. Cradle to Cradle: Remaking the Way We Make Things. New york: North Point Press. 2002.

CAVALCANTI, A. L. M. S. Re-Criar – As Dimensões Criativas do Design para a Sustentabilidade.  Joinville: Univille. 2021.

DESIS Design for Social Innovation and Sustainability. Disponível em: https://www.desisnetwork.org/ Acesso em: 05 outubro 2017.

DESIGN FOR CHANGE. Disponível em https://dfcworld.org/SITE. Acesso em: 22 de jul. 2022. 

SCHÖN, D. A. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Trad. Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

EVERLING, M. T.  Ethos – Design e Relações de Uso em Contexto de Crise Ecológica.  Joinville : Univille. 2021.

FRY, T. Defuturing – A New Design Philosophy. Bloomsbury: London, 2020. Versão Kindle.

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FRIDAYS FOR FUTURE. https://www.fridaysforfuturebrasil.org/. Acesso em: 22 de jul. 2022. 

JONAS, H. O Princípio Responsabilidade – Ensaio de uma Ética para a Civilização Tecnológica. Rio de Janeiro: PUC-RIO. 2006.  

KRENAK, A. O amanhã não está à venda. São Paulo: : Companhia das Letras. 2020

MANZINI, E. Download do Material Didático das palestras. 2014.  Disponível em http://www.ufrgs.br/ped2014/php/index.php. Acesso em 29 jun. 2022.

​​PAPANEK, V. Designing for the Real Word – Human Ecology and Social Change. Chicago: The University of Chicago Press. 1971.

​​PAPANEK, V. The Green Imperative – Ecology and Ethics in Design and Architecture. London : Thames and Hudson. 1995.

SELLIN, N. Valoriza – Valorização e minimização de resíduos visando à sustentabilidade ambiental, econômica e social.  Joinville: Univille. 2021.

SILVA, D. C. Prisma – Design e Materiais: Novas Perspectivas para a Produção Tecnológica e Sustentabilidade.  Joinville: Univille. 2021.

SOBRAL, J. E. C. Iris – A Imagem Fotográfica e as Ferramentas de Concepção e Desenvolvimento de Projetos de Artefatos Tridimensionais. Joinville: Univille. 2021.

  1. United Nations. Disponível em: https://www.un.org/en/. Acesso em: 22 de jul. 2022. 

WERTHEIN, J; CUNHA C., Ensino de Ciências e Desenvolvimento: o que pensam os cientistas. Brasília: UNESCO, Instituto Sangari, 2009.

Agradecimentos:

 

FAPESC – pelo financiamento da proposta.

Escola Municipal Padre Valente Simioni – pela parceria para as atividades.

FAP/Univille – pelo financiamento de bolsistas de graduação e do mestrado.

Governo do Estado de Santa Catarina – pelo financiamento de bolsista UNIEDU.

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